sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Requiescat

Pou que me vens,com o mesmo riso,
Por que me vens, com a mesma voz,
 Lembrar aquele paraíso,
  Extinto para nós?

Por que levantas esta lousa?
Por que, entre as sombras funerais,
Vens acordar o que repousa,
   Oque não vive mais?

Ah! esqueçemos, esqueçemos
Que foste minha e que fui teu:
Não lembres mais que nos amamos,
   Que nosso amor morreu!
O amor é uma árvore ampla, e rica
De frutos de ouro, e de embriaguez:
Infelizmente ,fritifica
    Apenas uma vez...

Sob essas ramas perfumadas,
Tens beijos todoseram meus:
E as nossas almas abraçadas
    Fugiam para Deus

Mas os teus beijos esfriaram...
Lembra-se bem! lembra-te bem!
E as folhas pálidas murcharam,
      E o nosso amor também.

Ah ! frutos de outro, que colhemos,
Frutos da cálida estação,
Com que delícias vos mordemos,
        Com que sofreguidão!

Lembras-te? os frutos eram doces...
Se ainda os pudessemos provar!
Se eu fosse ... se minhas fosses,
    E te pudesse amar...

Em vão , porém me beijas, louca!
Teu beijo , a palpitar e a arder,
Não achará, na minha boca,
    Outro parao acolher.

Não há mais beijos, nem mais pranto!
lembras-te? quando te perdi
beijei-te tanto, chorei tanto,
    Com tanto amor por ti,

Que os olhos, vés? já tenho enxutos,
E a minha boca se cansou:
A árvore já não tem mais frutos!
    ADeus! tudo que acabou !

Outras paixões ,outras idades!
Sejam os nossos corações 
Dois relicários de saudades 
  E de recordações.

Ah ! esquecemos, esqueçemos !
Durma tranquilo o nosso amor
Na cova taxa onde o enfrentamos
     Entre os rosais em flor... 
                                 Olavo Bilac

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