Pou que me vens,com o mesmo riso,
Por que me vens, com a mesma voz,
Lembrar aquele paraíso,
Extinto para nós?
Por que levantas esta lousa?
Por que, entre as sombras funerais,
Vens acordar o que repousa,
Oque não vive mais?
Ah! esqueçemos, esqueçemos
Que foste minha e que fui teu:
Não lembres mais que nos amamos,
Que nosso amor morreu!
O amor é uma árvore ampla, e rica
De frutos de ouro, e de embriaguez:
Infelizmente ,fritifica
Apenas uma vez...
Sob essas ramas perfumadas,
Tens beijos todoseram meus:
E as nossas almas abraçadas
Fugiam para Deus
Mas os teus beijos esfriaram...
Lembra-se bem! lembra-te bem!
E as folhas pálidas murcharam,
E o nosso amor também.
Ah ! frutos de outro, que colhemos,
Frutos da cálida estação,
Com que delícias vos mordemos,
Com que sofreguidão!
Lembras-te? os frutos eram doces...
Se ainda os pudessemos provar!
Se eu fosse ... se minhas fosses,
E te pudesse amar...
Em vão , porém me beijas, louca!
Teu beijo , a palpitar e a arder,
Não achará, na minha boca,
Outro parao acolher.
Não há mais beijos, nem mais pranto!
lembras-te? quando te perdi
beijei-te tanto, chorei tanto,
Com tanto amor por ti,
Que os olhos, vés? já tenho enxutos,
E a minha boca se cansou:
A árvore já não tem mais frutos!
ADeus! tudo que acabou !
Outras paixões ,outras idades!
Sejam os nossos corações
Dois relicários de saudades
E de recordações.
Ah ! esquecemos, esqueçemos !
Durma tranquilo o nosso amor
Na cova taxa onde o enfrentamos
Entre os rosais em flor...
Olavo Bilac
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